quinta-feira, 27 de outubro de 2011


No dia 7 de novembro de 1988, os operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), entraram em greve. Lutavam pela implantação do turno de 6 horas, reposição de salários usurpados por planos econômicos e reintegração dos demitidos por atuação sindical. A greve envolveu a comunidade de Volta Redonda.

No dia 9 de novembro, soldados do Exército de vários quartéis do estado e do Batalhão de Choques da Polícia Militar do Rio de Janeiro dispersaram uma manifestação em frente ao escritório central da companhia e invadiram a usina.


O Exército era um dos personagens das greves realizadas pelos operários da CSN. Em 84, a simples notícia de que pelotões do Exército estavam se deslocando para a Companhia, fez com que os trabalhadores votassem o fim da greve. Nos anos seguintes, os soldados também estavam lá. Em 88, portanto, não seria diferente.

Para Vanderlei Barcellos, um dos líderes do movimento a repressão foi mais forte porque o projeto da privatização já estava a caminho. " Naquela época o trabalhador sonhava e não era fácil o caminho da cooptação. Precisa começar a desmontar o movimento. E nós saímos daquela greve fortalecidos. A estrutura ainda estava contaminada pela prática da ditadura militar. Com Collor e Lima Neto ficou provado que a melhor forma de dominação é a ditadura burguesa e não a ditadura militar".

Vanderlei lembra que o Exército nunca tinha feito cordão de isolamento dentro da usina. "Nunca tinham usado bala de festim ou prendido trabalhadores".

A Igreja sempre foi muito atuante na organização da esquerda em Volta Redonda. Na época da ditadura vários padres da cidade foram presos e torturados. Dom Valdir Calheiros, bispo do município sempre esteve ao lados dos operários da cidade.

Para ele, aquela greve aconteceu num momento já adverso à classe trabalhadora. "Pouco depois caiu o muro de Berlim. Com a queda do muro o capitalismo ficou mais audacioso e procurou se estabelecer a como a única proposta verdadeira para a sociedade", explica.



Fonte: http://www.piratininga.org.br/artigos/2004/01/santiago-voltaredonda.html


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Há 20 anos Ocupação e greve na CSN contra a Privatização

A mobilização dos trabalhadores da CSN em 1990 que resultou na ocupação da fábrica em Volta Redonda em maio e depois em uma longa greve, foi o início da luta contra a privatização de uma das mais importantes siderúrgicas do País e do mundo que foi entregue na onda de privatizações da década passada 16 de maio de 2010

Em 1990, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) anunciou a demissão de 4 mil trabalhadores. Este foi o estopim para que os operários iniciassem uma onda de mobilizações como a ocupação da fábrica em Volta Redonda e posteriormente uma das mais longas greves da história da empresa.

A CSN

Aquele ano marcava o início do mandato de Fernando Collor, que faria da CSN, uma das primeiras estatais a se tornarem vítimas da política de entrega do patrimônio nacional para o grande capital estrangeiro, através das privatizações.A entrega da siderúrgica para o imperialismo foi feita pela burguesia nacional com apoio integral da imprensa capitalista, que orquestrou uma enorme campanha em favor da privatização da CSN.

Tal operação não era à toa. A CSN foi criada em 1941 e iniciou suas operações cinco anos depois, em 1946. Foi a maior e mais moderna siderúrgica de todo o hemisfério Sul. Foi importantíssima para a industrialização brasileira e abastecia de maneira direta ou indireta mais de 30.000 empresas. A produção da CSN atingiu seu auge em 1989 com 3,42 milhões de toneladas de aço, o equivalente a 0,5% da produção mundial do setor. Esta produção fez com que o País arrecadasse naquele ano, 2,2 bilhões de dólares e um faturamento 20% maior que o do ano anterior, 1988. Somente o faturamento da CSN já representava, na época, 0,6% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.

Estes dados mostram como havia motivos de sobra para que o capital estrangeiro ficasse de olho neste patrimônio.

Ao mesmo tempo que prosperava economicamente, a CSN por outro lado não revertia em nada estes ganhos para os trabalhadores. Os quase 30.000 trabalhadores siderúrgicos que produziam esta riqueza estavam há anos com acúmulo de perdas salariais.

O Caminho da Luta para Privatização

A ocupação da CSN foi o início de uma enorme greve dos metalúrgicos da empresa que durou mais de 30 dias e que foi um exemplo de luta contra a privatização, o arrocho salarial e os demais ataques do governo Collor contra os trabalhadores. Apesar de derrotada pelas direções sindicais sem a conquista de nenhuma das reivindicações e ainda o pagamento dos dias parados, a demissão de lideranças das fábricas e também de diretores do sindicato, a mobilização dos trabalhadores da CSN impulsionou a luta em diversas categorias de trabalhadores do serviço público que estavam ameaçadas com a privatização. A mobilização não só agrupou trabalhadores, mas teve amplo apoio popular da cidade de Volta Redonda.

Três anos depois, Collor privatizou a empresa e provocou a redução do número de trabalhadores a um terço. Passou de quase 30.000 operários para 9.800. Esta foi uma das primeiras privatizações da década de 1990.

Mesmo durando apenas um dia, a ocupação foi amplamente atacada tanto pela direção do sindicato quanto pela direção da empresa, pelo governo e também teve grande repercussão na imprensa burguesa.

A campanha contra a ocupação foi tão grande que mesmo muitos dias depois de ter sido derrotada, o fato foi assunto em um editorial de O Estado de S. Paulo, porta-voz da burguesia nacional e internacional no Brasil. Neste artigo, o jornal caracterizou o posicionamento e o medo da classe dominante diante da ocupação da CSN pelos :“A ocupação das fábricas numa greve priva os empresários da posse – e do controle – de seu patrimônio, colocado permanentemente em risco, mesmo que se saiba que a legislação penal permite responsabilizar quem atentar contra as instalações industriais. Essa garantia da lei penal, no entanto, nunca impediu que lideranças mais radicais – inspirados em processos adotados na Europa em contextos revolucionários – fizessem da ocupação, poderoso instrumento de pressão contra os empresários. A ocupação está, para a luta sindical, como a perda de terreno na guerra clássica. Perdido o controle da fábrica, o empresário é privado de elemento precioso nas negociações – e os grevistas conquistam vantagem dir-se-ia estratégica. (...)” (O Estado de S. Paulo, 18/5/2009).

O método de ocupação de fábrica foi de vital importância para impulsionar a greve da CSN e deve ser utilizado como uma ferramenta dos trabalhadores contra os patrões, contra as demissões, o arrocho salarial etc.


A Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda

Em 3 de outubro de 1832, foi criado o município de Barra Mansa. Parte considerável de Volta Redonda pertencia às suas terras.

As primeiras aspirações de autonomia do lugarejo surgem em 1874, quando os moradores pleitearam a elevação do povoado à categoria de freguesia, sendo que, em 1926, Volta Redonda conseguiu o seu estabelecimento definitivo como oitavo distrito de Barra Mansa.

Dessa época até a chegada da Companhia Siderúrgica Nacional, o então distrito denominado Santo Antônio de Volta Redonda (o oitavo do Município de Barra Mansa) cresceu lentamente, com o aparecimento de pequenas indústrias e cooperativas e pouco desenvolvimento estrutural e social.

Então, por volta de 1941, quando a usina começou a ser construída, Volta Redonda ganhou um desenvolvimento incomum, com a chegada de milhares de pessoas em busca de trabalho no "Eldorado" brasileiro. Em 1946, a CSN entrou em operação e a população de Volta Redonda continuou crescendo vertiginosamente com o surgimento de edificações por todos os lados.

Em 17 de julho de 1954, a "Cidade do Aço" se emancipou de Barra Mansa.

No entorno da siderúrgica, foi-se erguendo (na margem direita do Rio Paraíba) a vila operária, chamada então de "Cidade Nova", que só passaria à administração municipal em 1968 e que possuía melhor infraestrutura urbana e de serviços públicos que o restante do município, também chamado de "Cidade Velha". Até essa data, a prefeitura da cidade somente administrava a área correspondente à margem esquerda e alguns poucos bairros situados na margem direita, que ainda careciam de vários serviços básicos.

Em 1973, a cidade foi declarada pelo governo federal "Área de segurança nacional", situação que perdurou até 1985 e que impossibilitou a população de eleger o prefeito do município, sendo este indicado pelo presidente da República. Na década de 1980, várias greves na CSN (que contava com mais de 30 000 empregados diretos e indiretos na própria empresa e em outras coligadas, somente em Volta Redonda) agitaram o meio político e social do município, que culminaram, durante a Greve de 1988, com a morte de três operários no interior de sua usina por militares do Exército, o que foi acompanhado de grande mobilização popular.

Em 1993, com a privatização da CSN, a cidade enfrentou grave problema econômico que só pôde ser contornado com a intervenção do poder público e com a reorientação da economia municipal para o comércio e a prestação de serviços, sendo a mais forte nesses quesitos no Sul Fluminense.

Após a Privatização.